Trilha na Fazenda Taboquinha
O treinamento para cicloturismo exige experiência em estradas de terra e trilhas. Um amigo nos falou a respeito do Rebas do Cerrado, um grupo de Mountain Bikers, que promove passeios todos os domingos pela manhã. Há vários roteiros com níveis de dificuldades diferentes para atender tanto veteranos como iniciantes, em vários estilos de aventura. Na semana é divulgado o roteiro seguinte e aí o ciclista avalia se tem condições de fazer o passeio, se é o estilo de trilha que ele gosta ou não.
Bem, o Eduardo se associou à lista de discussão do Rebas e resolveu encarar uma das trilhas. No dia 18 de março de 2012 o pessoal faria uma trilha na Fazenda Taboquinha, em São Sebastião. Estava classificada no site do Rebas como média – nível 2, quanto à dificuldade. Mas nosso amigo Adair disse que já tinha ido e que era “fácil”! Foi minha primeira trilha!!
Acordamos cedo e encontramos o grupo do Rebas. Emocionante reunir tantas pessoas para um passeio de bicicleta! Era muita gente! Chegamos à fazenda, ouvimos as explicações, foi dada a largada e de cara tinha uma descida com um riacho para atravessarmos. Até aí, beleza! Molhar os pés fazia parte da aventura.
Só que em seguida vinha a primeira subida. Uma subida de verdade, do tipo que eu nunca tinha enfrentado. Vamos lá! Subi! Desci da bike, subi de novo, descida, oba!!! Mas rapidinha. Outra subida longa, descida rápida, subida, subida, descidinha, subida! Caramba. O Adair estava com a gente e foi um companheiro e tanto! Ele poderia estar entre os primeiros do grupo, pois tem um preparo fantástico. Mas ficou nos acompanhando. Aí quando eu estava bem morta, ele dizia: “Continua firme! Essa é a última subida!” Só que ele repetiu isso umas 20 vezes… as subidas não tinham fim!
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Ficamos pra trás, claro! Com tantas idas e vindas (voltavam pra me buscar porque eu parava, sentava no chão e esperava o fôlego voltar), perdemos o controle da planilha. Aí, quando apareceu a primeira bifurcação no caminho, paramos e ficamos pensando… é engraçado lembrar! Olhávamos pra uma estrada, olhávamos pra outra… analisando as possibilidades, meio que tentando ‘farejar’ o caminho certo. Nessa hora chegou um retardatário que tinha parado para arrumar um pneu furado. Era o Jandson e, como estava perdido também, juntou-se a nós. E pegamos o caminho errado. Mas só descobrimos isso no final…
O caminho que escolhemos era bem agradável! Um estradão de terra batida, sem cascalho, sem buraco, bem sombreado! Ah, que delícia! Foi nessa hora que eu despenquei da bicicleta, caindo pra esquerda de cabeça. Depois bati o ombro esquerdo e caí em cima do braço. Fiquei completamente zonza, vendo tudo dobrado, meio desmaiada, meio acordada, sem noção… e descobri a função do capacete. Ele serve pra rachar no lugar da cabeça. Se tivesse batido a cabeça direto no chão, não sei se estaria viva ou consciente pra contar a história. E o meu capacete rachou. Aos poucos a zonzeira foi passando e o Eduardo me ajudou a levantar. Logo vi que o braço esquerdo não estava legal. Não conseguia fazer qualquer movimento com ele. E agora? A gente estava no meio da trilha, tínhamos que continuar ou voltar. Decidimos continuar. Tentei subir na bike e prosseguir, mas era impossível sem um braço. Além disso, a dor foi aumentando…
Olhei em volta e vi uma chácara. Havia uma família e um Del Rey. Chamei o dono e perguntei se ele poderia me levar de volta à sede da fazenda. Ele lamentou dizendo que o carro estava quebrado, mas disse que tinha um irmão morando ali perto. Ia ligar pra ver se ele podia ajudar. Ufa, ele podia! Veio com um Gol. Eduardo desmontou minha bike e colocou no carro. Não cabiam duas bikes. Então tivemos que confiar no moço. Eles prosseguiram na trilha e eu voltei. Ele já tinha trabalhado por algum tempo na Fazenda Taboquinha. Um rapaz ótimo! Estava indo trabalhar quando o irmão o chamou e ele veio sem pestanejar. Não é fácil, hoje em dia, encontrar quem se disponha a ajudar desse modo, desinteressadamente. A porteira da fazenda estava fechada. Ligamos e pedimos que abrissem, mas ficamos um tempão lá, debaixo do sol, ele atrasado pro serviço. No fim deu tudo certo! Quando chegamos à sede, agradeci muito, ofereci uma ajuda em dinheiro para a gasolina e pelo tempo gasto comigo e fui comer alguma coisa enquanto esperava o Eduardo e o Adair.
Eles demoraram à beça, acho que porque eu estava muito agoniada para chegar em casa. O braço doía e eu tinha que sustentá-lo com o outro braço, pois não suportava tipoia. E o meu ombro ardia pra valer…
Finalmente chegaram contando que se eu não tivesse caído onde caí, o tombo poderia ter sido pior. Pegaram uma pirambeira tremenda! Tão feia que chegaram a achar ter sido “sorte minha” eu ter caído antes de chegar lá. A “pirambeira” tem nome: Descida das Abelhas, muito usada em competições de MTB.
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Voltamos pra casa, enfim! Ao tirar a blusa, descobri que meu ombro direito estava incompleto. Foi arrancado um tampo gigante! A dor que sentia ali era somente decorrente disso. Felizmente minha blusa estava intacta. Tomamos um bom banho e fomos ao Hospital Santa Luzia. Resultado: cotovelo quebrado em dois lugares e gesso, claro! Fiquei por 21 dias com gesso e outros 23 dias com tipoia. Fiz fisioterapia. Voltei a trabalhar, mas não voltei tão cedo a pedalar.
Quanto à trilha, a despeito do meu tombo, eu não estava mesmo preparada pra ela. O Adair a considera fácil porque ele está no pedal há muito tempo! É preciso ter consciência de que sem preparo pode-se ter problemas e o pior, causar problemas aos colegas do grupo. Além disso, o que era pra ser divertido acaba se transformando numa verdadeira tortura! Na próxima, espero poder acompanhar o grupo sem me cansar tanto. Vou treinar para isso!
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