11 de maio de 2011

Marie

Por Erika Horst

 “Um gato vive um pouco nas poltronas, no cimento ao sol, no telhado sob a lua. Vive também sobre a mesa do escritório, e o salto preciso que ele dá para atingi-la é mais do que  impulso para a cultura. É o movimento civilizado de um organismo plenamente ajustado às leis físicas, e que não carece de suplemento de informação.  Livros e papéis, beneficiam-se com a sua presteza austera. Mais do que a coruja, o gato é símbolo e guardião da vida intelectual”.

 Crônica de Carlos Drummond de Andrade

A Rosângela, uma colega de trabalho, tinha 5 gatos em seu apartamento. Estava achando demais e começou a procurar novos donos para alguns deles. Ela tanto falou sobre isso na seção, que acabei concordando em ficar com uma fêmea, então.

Assim, Marie chegou para mim em janeiro de 2010. Ela já tinha 3 anos e se chamava Juninha, pois era exatamente igual à sua mãe. Mas achamos que ela tinha mais cara de Marie… trocamos o nome.

Nos primeiros dias, deixei a casa toda fechada até que ela se acostumasse. A coitadinha chegou tão assustada! Vivia se escondendo debaixo dos móveis e nos lugares mais estranhos e seguros que podia encontrar. Ninguém conseguir chegar perto dela. Um dia, consegui pegá-la e me tranquei com ela dentro do banheiro, que é um ovo. Sentei-me no chão e fiquei quietinha, esperando. Fiz isso vários dias seguidos, até que ela entendeu que a mãe dela agora era eu. Ficamos amigas íntimas. Já com o Eduardo, a intimidade demorou mais uns meses. E pronto! Não quer saber de fazer amizade com mais ninguém. Está melhor hoje, mas ainda é bastante arisca e desconfiada com crianças e estranhos.

Ficamos impressionados em ver que ela aprendeu o novo nome num instante! A gente pensava que só cães atendiam pelo nome. Nada disso! A Marie não só atende quando a chamamos pelo nome, mas reconhece todos os seus apelidos e sabe falar! Pode acreditar! Gatos falam.

No entanto, ao contrário de outros gatinhos que conhecemos, como a Chica e o Malti, a Marie não gosta de muito rela-rela, nem de colo. Adora ficar onde estamos, mas só por perto, sem encostar. Aí, de repente ela vem chegando e se esfregando na gente, pedindo carinho. Se joga no chão de barriga pra cima, mia comprido! Mas o carinho não pode durar muito. Logo ela começa a estapear e a mordiscar nossas mãos avisando: “Já chega!”

Gatos são figuras muito interessantes. Descobrimos que não adianta colocar água à disposição dela, porque ela não gosta de água “suja”. Um pelinho, um cisquinho e a água está suja. Ela só quer saber de beber água na torneira. E pede pra gente abrir pra ela. Uma canseira, porque ela adora beber água de madrugada e não faz cerimônia em pedir… Conversamos com a veterinária e soubemos então que gatos gostam de água limpa, muito limpa, fresca e em movimento. É mole? Compramos uma fonte e pudemos dormir sossegados até chover, trovejar e a fonte queimar. Já vamos para a terceira…

Ouço pessoas dizendo que detestam gatos, pois eles são traiçoeiros, interesseiros e não se apegam ao dono, mas tão somente à casa. Isso pode ser o que parece, mas não é a realidade. É que gatos são gatos, não são cachorros. A relação é diferente, o comportamento é outro.

Como diz a música do Skank, Te Ver, “é impossível ver um bichano pelo chão e não sorrir…”

Ah, meu gatinho!! Só quem já teve ou tem gatos pode entender a preciosidade que é tê-los como companhia.