Vale Europeu – Timbó a Palmeiras
29/03/2013 – 1º dia
Cometi dois vacilos básicos antes da viagem começar. O primeiro foi não prestar atenção ao meu ciclo menstrual. O segundo foi cismar que precisava emagrecer e fazer uma semana de dieta de zero carbo a 15 dias da viagem.
O resultado? Assim que parei com a dieta, meu sistema imunológico foi derrubado e caí resfriada no sábado à noite. Combati com vitaminas, muita comida (a dieta foi para o espaço), água e descanso. Na terça-feira a esquecida menstruação chegou junto com as costumeiras cólicas, dores nas pernas e nos rins… Na quinta viajamos. Já estava melhor, no entanto, comeceçaria o percurso meio baqueada. Por isso deixei dois taxistas de sobreaviso. Se eu ficasse muito mal, pediria socorro.
Acordamos às 6h30, tomamos um bom café da manhã, mas até arrumar toda a tralha nas bicicletas… conseguimos finalmente sair pedalando pra valer às 9h.
Nem 3 minutos de pedal, o GPS mandava entrar à direita numa rua cujo nome não coincidia com o informado. Por falar nisso, as placas de sinalização do circuito são o grande problema de se fazer o caminho inverso. Elas são pequenas, discretas e estão no sentido contrário, claro!
Vinha passando um senhor distinto que passeava com seus boxers. Perguntamos. Ele prontamente deu a direção. Disse que o GPS estava mandando para a direita porque ali, reto, era contramão. Mas que a gente podia seguir ali mesmo para evitar uma volta enorme. Era só um quarterão de contramão, não havia ninguém na rua, uma cidade quase fantasma… ainda assim insistimos com ele: “Olha, estamos fazendo o circuito de cicloturismo do Vale Europeu. Vamos para Palmeiras, mas pretendemos seguir pelo caminho oficial do circuito. Nosso caminho é por estrada de terra…” Ele sorriu e nos tranquilizou. “Podem seguir por aí, direto mesmo! A estrada de terra começa logo adiante!” Muito bem. O cara morava lá. Devia saber o que estava dizendo.
Não sabia! Lá pelas tantas começamos a estranhar que a estrada de terra não chegava nunca. E o movimento de carros zunindo em alta velocidade aumentava a cada minuto. No entanto o GPS não acusava que estávamos errados.
Só depois de 13 km a estrada de terra chegou… Desconfiamos que o caminho do cicloturismo não era aquele, mas aí não dava para voltar. O céu estava nublado o clima fresco, mas a subida, ainda que leve, já tinha começado há um tempão… Pedalando, 13km não é pouco, não. Quando a gente perguntava o caminho de Palmeiras todos afirmavam que o caminho era aquele mesmo. Então chegaríamos lá de qualquer jeito.
Com a estrada de terra chegou o Rio dos Cedros que acompanha a estrada por bons quilômetros.
Desde Timbó, um caminho tão bucólico! Casinhas de boneca com jardins tão bem cuidados! Animais saudáveis! E a paisagem nos encantava cada vez mais!
Lá pelas 11h o movimento de carros já estava ficando alucinante! Cruzamos com o Edno, de Maringá, que visitava a família e nos explicou a razão: lá em cima há duas represas (Alto Cedros e Palmeiras) e esse movimento era do pessoal subindo para curtir o feriado de Páscoa.
Eu já estava desesperada para ir ao banheiro. Com todo aquele movimento não dava para fazer nada na estrada. Só ao meio-dia achamos a lanchonete Rota da Serra, ao pé de uma subida estranha, ao lado do rio.
Um lugar bem agradável, um alívio! Não ia dar para subir sem almoço! Fui primeiro ao banheiro que ficava do lado de fora, já toda animada. Quando entrei na lanchonete conheci a dona Ivete, proprietária do lugar. Ela morava na casa ao lado com o pai, que é cadeirante. Estava justamente preparando o almoço!! Um cheirinho ótimo! Era um peixe frito… Quando perguntamos o que tinha para o almoço, ela se desculpou, dizendo que não tinha nada preparado porque o lugar não tinha movimento algum. Passavam muitos carros por ali mas, parar que é bom, ninguém parava. Reclamou da Secretaria de Turismo que não fazia nenhuma campanha para ajudar os estabelecimentos da estrada. Contou que já chegou a fazer a própria propaganda e ficar com um monte de comida encalhada, sem vender um prato sequer, portanto, não fazia mais nada; só tinha biscoitos, refrigerantes… E então ela disse que podia ceder o almoço dela, caso a gente não se importasse com a simplicidade e com a quantidade…
Imagine se a gente ia tirar o almoço dela! Agradecemos muito e partimos para o plano B: farofa de carne seca, feita pela Elizete, para o 2º e 3º dia, quando não haveria restaurantes pelo caminho. Pedimos emprestados pratinhos e talheres e comemos admirando o rio.
A dona Ivete nos deu um mapa da região de Rio dos Cedros e nos mostrou direitinho onde estávamos e por onde deveríamos seguir. Vi uma alternativa aparentemente mais curta no mapa, mas ela nos fez desistir, afirmando que por ali a subida seria muito mais difícil!! Todos já diziam que a gente ia subir uma serra insana; achamos melhor seguir o conselho dela.
Foi um descanso ligeiro. Vinte minutos depois, já devidamente alimentados e abastecidos de água, começamos a subir a serra. Subidas sem fim, algumas descidinhas. Lá pelas tantas eu tive que empurrar. Ouça aqui o meu drama!
Depois dessa e de outras, encontrar essa bica foi como encontrar um oásis!
E paradinhas para relaxar foram indispensáveis para recuperar o fôlego!
Quando chegamos na bifurcação que separa o caminho para as duas represas, encontramos a Lanchonete do Trevo.
Fiquei toda animada, mas na “vitrine” só tinha pastéis fritos há uma semana (exagero à parte, não dava pra encarar de jeito nenhum!). O sujeito falou que eram do dia e o Eduardo teve coragem de perguntar se eu não queria um… What??? “Mas você não está com fome?” Matar a fome é uma coisa; cometer suicídio é outra bem diferente… fiquei com as frutas secas, rapaduras e Suum. A alimentação, mesmo na parte habitada do circuito é um problema! É preciso se preparar!
Pouco adiante começava o nosso maior tormento: a tal serra que todos diziam que íamos pegar… a subida de verdade! Caramba! Fui empurrando, mas logo, logo já não conseguia andar.
O Eduardo amarrou a corda sugerida por nosso amigo Adair, fazendo piada: “Leva uma corda para puxar a Erika, Dudu!” Foi uma dica fantástica! Sem a corda eu não subia aquela serra! Então ele foi puxando a bike. Eu tentava ajudar… ajudei pouco, viu!? Tadinho do meu marido! A gente parava toda hora para respirar! Eu decidi que não ia mais e peguei o celular para chamar um dos taxistas que deixei de sobreaviso. Cadê o sinal??? Quase chorei! Continuamos empurrando, parando, descansando, comendo, empurrando…
Ah! Enfim, chegou o fim da subida junto com uma cidade chamada Rio Rosina.
Avistamos uma lanchonete, a Cantina Rio Rosina e eu nem me animei muito. Nossa experiência com lanchonetes não foi das melhores naquele dia.
O Eduardo foi ver o que tinha. Eu nem desci da bicicleta. Tinha certeza de que não haveria opções. Mas tinha! O dono fez um sanduíche de salame com queijo em pão francês torradinho na chapa!!! Ai, que fome! Ai, que delícia! Para beber, refrigerante e água… O Eduardo não resistiu, mas eu fui de água, porque já corria o risco de estar desidratada e não precisava da ajuda da Coca-Cola para piorar as coisas.
Faltavam ainda uns 15 km. A sensação de gripe piorando, dor de garganta aumentou nessa hora. Entre o super esforço que encharcou nossas blusas e desaparecimento precoce do sol, por causa dos morros, foi um curto espaço de tempo. Eu tinha o corpo quente e a blusa estava meio úmida pelo suor, que não teve tempo de secar, enquanto um vento gelado começava a bater. Coloquei minha blusa térmica e seguimos. Que bom que a partir dali pegamos muitas partes planas, descidas leves e poucas subidas. Então minha velha forma voltou e pedalamos tranquilos. A represa foi nos seguindo pelo caminho lindo, lindo, lindo!
Enfim chegamos à Estância Turística Vale dos Ventos às 18h, com o dia ainda meio claro. A altimetria do dia não foi mole, não!
Isso tudo aconteceu em 39km…
O Ciro veio nos receber contando que já estava preocupado, pois os cicloturistas costumam chegar até as 16h! Levou-nos para dentro do restaurante onde havia um café colonial servido com muitas delícias! Um café quente e um chá com cucas, pizzas, etc, acalmaram meu estado de enfermidade iminente.
Depois descemos para o nosso chalé e nos instalamos confortavelmente, tomamos um banho bem quentinho. Às 20h30 subimos para o jantar preparado inteiramente pelo Ciro. Aliás, toda a produção gastronômica no Vale dos Ventos é do Ciro. Ele aprimorou seus conhecimentos na área em Barcelona, onde trabalhou por um ano num pequeno restaurante frequentado basicamente por moradores da cidade. Um lugarzinho escondido dos turistas.
Ele preparou naquela noite um festival de pescados!! Tinha camarão na moranga e dois outros tipos de peixe feitos ao forno mais salada verde y otras cositas más. Tudo delicioso! A carta de vinhos tinha opções de várias nacionalidades e alguns nacionais, da Vinícola San Michele, que fica ali mesmo no Vale Europeu. Experimentamos um nacional e gostamos bastante! De sobremesa, uma coisa boa! Não lembro o nome.
Fomos dormir arrasados, porém muito satisfeitos por concluir o dia bem e sem ter sofrido nenhuma intercorrência do tipo acidentes ou pneus furados.
Ah! A respeito do caminho errado que pegamos, economizamos, sem querer, 13 km e, a despeito da serra que subimos, descobrimos que a subida pelo caminho certo seria bem pior. Ou seja, com tantos quilômetros a mais numa subida pior, chegaríamos lá pelas 20h (se chegássemos…), o que não seria nada interessante naquela noite tão fria, nas condições em que eu me encontrava. Nada acontece por acaso…
O coração do homem traça o seu caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos. Provérbios 16.9
Muito bom amiga, tem que ter coragem. E por falar nisso, não tem perigo de assalto, com esses equipamentos bons/caros? Adorei as fotos, inclusive a quantidade, não economizou dessa vez. Lugares lindos. Aguardo o próximo post. bj
A região é muito tranquila. Não há registros de assalto por lá. A gente se sente fora do Brasil…
Que aventura!!!
nossa vcs estão de parabéns mesmo. esse tipo de iniciativa deve encabular muitos ex-alguma coisa a se movimentar kkkkkkkk inclusive eu. mais uma vez fica minha admiração por tamanha coragem e espirito de aventura. celso firmino
ou
celso bau
Como diz nosso amado Pastor André, “vamunessa”, Baú!
Confesso que na hora do “sofrimento” pedalando ou empurrando (principalmente empurrando!!!) as bikes (muitos) morros acima, pesadas com tanta bagagem (inexperiência pura levar tanta coisa desnecessária, pro tal do “se precisar…”), a gente chega a se perguntar: “- O que é que eu tô fazendo aqui???”. Mas, depois de passar por tantos lugares maravilhosos, ver tanta coisa linda e conhecer tanta gente bacana, fica uma sensação muito boa e a vontade de planejar a próxima aventura. No ano passado, quando participei do Desafiando Limites pela primeira vez (100 Km de Sto Antônio do Descoberto a Pirenópolis – GO), terminei o ‘passeio’ sem me aguentar sobre a bike. Pensei comigo que jamais faria aquilo novamente. Mas, no dia seguinte, devidamente descansado, eu já planejava minha ‘estratégia’ para terminar o trajeto no ano seguinte e chegar ‘mais inteiro’. E assim foi! No próximo dia 20/04 lá vou eu de novo. O negócio é não desistir nunca. E vamos que vamos! 🙂
Olá Erika, como vai…
Eu e minha esposa estamos querendo fazer o circuito VE, em final de maio, pretendemos fazer o percurso todo em uns sete dias pra mais, será que o tempo estará bom nessa época?
Tá a fim de ir nessa ou sabe de alguém que estará indo nessa época?
Abs…
Oi, Richard! Tudo bem?
Nós não vamos poder ir agora… afinal, acabamos de chegar de lá… 🙂 Mas sempre tem gente querendo ir. Se souber de alguém te falo.
Olha, o tempo em maio ainda promete ser bom, mas lembre-se de que por lá chove em qualquer época do ano. Nós tivemos sorte e pegamos pouca chuva. Vá preparado!
Vocês vão adorar a viagem!
Abraços!