30 de março de 2013

Vale Europeu – Palmeiras a Alto Cedros

Por Erika Horst

30/03/2013 – 2º dia

Nosso despertador nos acordou bem cedo no Vale dos Ventos, mas a chuva que caía forte segurou a gente na cama por mais um tempo… Que cama boa, gente! Uma noite não foi suficiente para descansar.

Queríamos passar o dia curtindo o chalé das Araucárias!

Quando a chuva diminuiu, fomos tomar o café da manhã caprichadíssimo preparado pelo Ciro.

Logo o tempo firmou, então preparamos as bicicletas. O meu Amor reorganizou toda a bagagem de modo a carregar o maior peso. A gente exagerou! É preciso ter muito cuidado na hora de selecionar o que levar numa viagem de cicloturismo sem apoio. Qualquer coisa que faltar ou sobrar vai interferir no seu bem estar. No nosso caso, sobrou muita coisa e o peso extra atrapalhou demais o rendimento do nosso pedal.

Bicicletas prontas, na hora de ligar o GPS percebemos que ele estava quase sem carga, com somente 20% de bateria. Esquecemos de colocar para carregar justamente o GPS, pode??? Sem ele poderíamos ficar perdidos. O jeito foi colocar para carregar e esperar.

Enquanto isso, o Ciro fez um mapinha legal explicando por onde deveríamos seguir e afirmou categoricamente que o dia seria light, com poucas subidas. Ufa! Ficamos bem mais tranquilos!

Saímos por volta das 11h10, sem que a carga do GPS estivesse completa. Mas não tínhamos como continuar esperando, pois tínhamos 50 km pela frente, com um tempo que prometia chuva.

Vale Europeu _Vale dos Ventos - Erika Horst

Depois de rodar 10 km foi que chegamos à cidade de Palmeiras, onde começaria de fato o percurso do dia. Já sabíamos que pela frente não haveria restaurantes ou lanchonetes, portanto decidimos almoçar antes de prosseguir. Comemos no restaurante Península Palmeiras, uma comida a quilo bem boazinha.

Vale Europeu _Palmeiras a Alto Cedros - Erika Horst

Vale Europeu _Palmeiras a Alto Cedros - Erika Horst

A garoa parou, mas o dia permaneceu nublado. A saga das subidas continuou firme e forte! Na metade do caminho, ou seja, com 25 km percorridos já havíamos passado de 628 para 941 metros de altitude (parece pouco mas, tenha a certeza, não é quando você não está motorizado!!!). Pelo caminho o Eduardo queria matar o Ciro, coitado! Como ele pôde dizer que não teria tanta subida???

Vale Europeu _Palmeiras a Alto Cedros - Erika Horst

Que maldade! Mas numa coisa ele estava certo: o caminho era realmente ma-ra-vi-lho-so!!!

E logo entendemos o Ciro. Nas poucas vezes em que cruzamos e conversamos com alguém que transitava pela estrada, o condutor do carro ou da moto dizia que não havia mais subidas. Só uma subidinha ou outra, coisa leve… Tá! Queria ver esses tipos pedalando! Nunca mais vão falar uma barbaridade dessas! Nem na hora de descer a serra as subidas acabaram.

2013-03-30_16h43m22

E o dia não rendia! Fomos abençoados com um clima fresco todo o tempo, mas tivemos que empurrar MUITO! O tempo passava, os quilômetros, não… Por um tempo o Eduardo ia dizendo: “- Faltam 32 km…”. Três horas depois: “- Faltam 31,5 km…” Ai, que desespero! Eu pedi para não me contar mais nada sobre quilômetros. Preferia não saber!

Vale Europeu _Palmeiras a Alto Cedros - Erika Horst

Por volta das 18h, avistamos uma casa, coisa rara por aquelas bandas. Eu já estava muito cansada e logo ia escurecer. Vi que tinham pickups e fiquei animada! “- Ai, Amor! Eles bem que poderiam nos levar ao hotel Parador da Montanha, né?!”, nosso destino em Alto Cedros.

Vale Europeu _Palmeiras a Alto Cedros - Erika Horst

O Vale Europeu é habitado, majoritariamente, por descendentes de alemães e italianos. Alguém já havia dito que os italianos dali eram mais fechados. Vimos um grupo de homens conversando na varanda da casa e chamamos. Ninguém pareceu muito disposto a largar o papo. Depois de uns segundos pensando, veio um deles até a cerca. Contamos para onde estávamos indo e perguntamos se estava longe. A essa altura, o GPS já estava desligado para não acabar a carga. Ele disse que ainda teríamos uns 20 km pela frente. Não!!! Fiz um drama, que não era encenação, falei do cansaço, do frio, da noite que chegava, da gripe, do horário que a gente deveria chegar lá…

Vale Europeu_Palmeiras a Alto Cedros

O cara não se comoveu. Não disse uma palavra, não deu nem um meio sorriso! Então agradecemos e seguimos. Que insensível! Adiante vesti minha blusa térmica e pegamos as lanternas, pois já estava escurecendo.

Vale Europeu _Palmeiras a Alto Cedros - Erika Horst

Aliás, quando estávamos preparando a bagagem, quase deixamos as lanternas em casa. O Eduardo dizia: “- A gente vai carregar esse peso à toa (qualquer peso é muito numa bicicleta), porque não vamos pedalar à noite. Vamos sair cedinho dos hotéis e chegar durante o dia aos destinos…” Nem lembro a razão que nos fez mudar de ideia. Levamos as lanternas, afinal!

Vale Europeu_Palmeiras a Alto Cedros - Erika Horst

Que bom! Naquela noite, nem lua minguante havia no céu encoberto por nuvens pesadas e chuva ameaçando cair a qualquer momento. Felizmente o vento não estava machucando demais. Tivemos que ligar as lanternas às 18h30. Andamos um pouco e eu estava ficando tonta com o balanço do minha bolsa de guidão que fazia a luz da lanterna tremular. Chamei o Eduardo e mostrei o problema. Tentamos ajeitar a bolsa, reposicionar a lanterna, mas não teve jeito. Decidimos ir só com a lanterna dele. Ele lembrou que isso até seria bom para economizar luz, porque a gente não sabia quanto tempo as baterias das laternas durariam. Enfim, seguimos bem juntinhos, com a iluminação dele, tentando ficar longe da beira da estrada que beirava um precipício. Eu lamentei por saber que nós estávamos perdendo uma vista fantástica.

Vale Europeu_Palmeiras a Alto Cedros - Erika Horst

É tão bom ver o cuidado de Deus em pequeninas coisas que a princípio parecem ser um problema, motivo de aborrecimento. Não é que a lanterna do Eduardo “amarelou” e tivemos que usar a minha??? Se o “problema” da bolsa saculejante não tivesse ocorrido, certamente ficaríamos sem luz e sem sinal de celular, num lugar estranho e completamente ermo àquela hora da noite. Obrigada, meu Deus!

Não há fotos da aventura noturna… Na hora estávamos tão tensos que nem pensamos nisso. Mas no outro dia, quando lamentei não haver nenhuma foto do perrengue noturno, o Eduardo disse: “- Se você tivesse falado em bater fotos naquela hora eu teria pulado no seu pescoço!!” Ainda assim eu lamento…

Começou a chover e as capas de chuva foram requisitadas novamente. O bom é que elas funcionam como corta vento, porque esfriou! Para nossa alegria a chuva não foi nem forte nem duradoura e entre explosões alternadas de mal-humor, paradinhas para comer, subidas e descidas, chegamos ao Hotel Parador da Montanha, com uma luz fraquinha na lanterna, sem GPS, arrasados e famintos!

Quando entramos no saguão, proprietários e hóspedes conversavam animadamente, ao som de uma música baixa e agradável, lareira acesa, taças cheias de vinho, árvore iluminada piscando. A primeira coisa que pensamos foi: “- Uai, demoramos tanto a chegar aqui que já é Natal?!” Examinando melhor, vimos os coelhinhos pendurados na árvore… Ufa! Tradição de Páscoa na região, todos enfeitam as casas. Passamos por várias casas com jardins enfeitados. Ah! O aroma de algo assando estava tremendamente bom!

O Oscar, proprietário do hotel, veio nos receber e foi muito simpático: “- E aí, gente? Pedalando à essa hora?” Eram 21h… “- Vocês estão perdidos por aqui? Posso ajudar vocês?” Eu disse, no mesmo tom de brincadeira dele, que ele podia nos mostrando o nosso quarto. Ele levou um susto! Não sabia que ainda chegaria alguém, pois quem cuida das reservas é a nora, Priscila. Prontamente nos acomodou, ajudou com os alforges e nos perguntou se queríamos comer alguma coisa já ou aguardar o jantar que seria servido mais tarde, pois o cordeiro estava assando… Ah, o cheiro do assado! Imploramos por comida já! Então ele pediu que nos servissem o chá que já havia sido recolhido. Que cuca! Que café! Conhecemos o Marco, filho do Oscar. Uma graça de rapaz, o chef.

Vale Europeu _Hotel Parador da Montanha em Alto Cedros - Erika Horst

Um pouco revigorados, subimos para um merecido e muito desejado banho! Quando descemos, um caldo de abóbora acabara de ser servido. Reconfortante! O vinho chegou em seguida e o jantar também foi servido. Nossa, que delícia! Que fome, que comilança! O cordeiro estava perfeito! Além dele, o risoto de tomate seco, as saladas, outra variedade de pratos primorosamente preparados e um ótimo papo com o Oscar, quase concluíram o processo de recuperação do nosso estado de exaustão! Faltava somente uma coisa: cair na cama!

Vale Europeu _Hotel Parador da Montanha em Alto Cedros - Erika Horst

Ah, a cama… Foi uma noite ótima! Dormimos muito bem!

O anjo do SENHOR acampa-se ao redor dos que o temem e os livra.               Oh! Provai e vede que o SENHOR é bom; bem-aventurado o homem que nele se refugia. Salmo 34. 7-8

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