1 de abril de 2013

Vale Europeu – Doutor Pedrinho a Cachoeira do Zinco

Por Erika Horst

01/04/2013 – 4º dia

Amanheceu e só eu tinha uma certeza: não iria pedalar naquele dia. Só não sabia como chegaria ao Campo do Zinco sem a Imelda. Eu explico! Todas as noites, antes de capotar, a gente dava uma olhadinha no percurso do dia seguinte. Ah… aquelas subidas não seriam moleza, principalmente a subida para chegar à Cachoeira do Zinco, com um ganho de elevação de 200 metros em apenas 2 Km. Dessa vez nem deu vontade de chorar. Eu estava tão cansada e tão certa de que não queria enfrentar o quarto dia que decidi ir de táxi. O Eduardo protestou, dizendo que não faria isso de jeito nenhum, mas me apoiou. Na verdade ele também tinha consciência de que seria muito difícil para mim. Então disse que iria sozinho, sem problemas. A cara dele era de triste compreensivo… Sei!

Então descemos para o café da manhã e eu pedi à Izabel que me ajudasse a encontrar um taxista que me levasse com a Imelda e toda a bagagem ao nosso destino. Enquanto tomávamos o farto café da manhã, ela tentou de tudo, fez contatos, mas ia e voltava com a notícia de que não havia ninguém trabalhando naquele dia… Sem mentira, gente, apesar da data suspeita, a segunda-feira depois da Páscoa é feriado de Páscoa na região! Isso mesmo. E sendo feriado santo, a maioria não viola. Ai, ai, ai… O que eu ia fazer, então?

Foi aí que me lembrei do Rui, da Fazenda Sacramento, em Rodeio. Ele já tinha me dito, em nossas muitas conversas por e-mail, que fazia pequenos deslocamentos, caso precisássemos. “Beleza” – pensei – “vou ligar para o Rui”. Mas foi aí que me dei conta de que tinha deixado o telefone de todos os hotéis e pousadas com nossos pais, para qualquer necessidade de comunicação, mas não tinha levado nenhum comigo. Pode?!

Bem, ia procurar na Internet, já que na pousada havia um computador com acesso à internet. Fácil! E seria mesmo fácil se o acesso fosse normal, mas parecia acesso discado dos primórdios da Internet. Não era discado mas, caramba… demorava muito!!! Não entrava de jeito nenhum! Eu já estava ficando angustiada, porque o Eduardo tinha que ir embora e eu não tinha certeza de nada. E se o Rui não pudesse ir me buscar?? Socorro!

Comecei a repensar, agora já quase chorando, a possibilidade de ter que ir de bicicleta. Mas, se fosse o jeito, que remédio? Foi aí que chegou uma mensagem no meu celular. Era da Angela, esposa do Rui, perguntando se eu queria trocar de acomodação. Opa! Na hora liguei de volta e os peguei de saída para Blumenau. Se tivesse demorado mais 5 minutos já estariam longe… Ela disse que ia ver se dava para o Rui mudar os planos e me retornaria em breve.

Logo em seguida a tal conexão com a internet ‘vingou’ e, ao mesmo tempo, a Izabel veio me dizer que tinha conseguido uma possibilidade de traslado. Aí então relaxei e despachei o Eduardo, só com uma bolsa de garupa, levinha, levinha…

Enquanto ele se preparava para sair eu percebi uma alegria velada, um sorriso querendo explodir!

E perguntei docemente, como quem não quer nada: “Amor, você bem que está gostando da ideia de ir sozinho hoje, não é, não?” Ah, mas a cara dele merecia ter sido filmada! Ele se contorceu todo tentando conter o tal sorriso, mas não teve jeito! Era aquilo mesmo! Estava doidinho para voar no ritmo dele. E voou! Feliz da vida!

Logo o Rui ligou dizendo que podia ir. Chegou umas 11h30. Pensei que cruzaríamos com o Eduardo, mas pegamos a estrada de asfalto. O percurso do cicloturismo evita estradas muito movimentadas, seguindo, a maior parte do tempo por estradas de terra secundárias.

Pelo caminho eu procurava um lugar para comer. Já estava com fome e sabia que o pessoal da pousada não estava nos esperando para almoçar. Que nada! Feriado mesmo!! Não havia nenhum lugar aberto. Então o Rui me acalmou dizendo que a Margarete daria um jeitinho. Então tá! Fiquei com pena foi do Eduardo, que também não teria opções pelo caminho. Bem, ele tinha a farofa de carne seca…!

O Rui foi muito legal e me levou para conhecer a única igreja em estilo enxaimel no Brasil. O Eduardo também passou por lá. É mesmo muito bonita e perfeitamente conservada. Parece nova!

Adquiri uma super sensibilidade para avaliar subidas e agradeci, ao Rui e ao meu Deus, várias e várias vezes, por ter escapado daquele pedal. Fiquei horrorizada com a subida final para o Zinco! Mas logo avistamos a cachoeira e chegamos ao mirante.

Que visão divina! Deus criou tanta beleza! Foi muito bom poder contemplar um pouco das suas maravilhas.

O Campo do Zinco não faz parte do circuito porque exige ida e volta pelo mesmo caminho o que desconfigura a ideia de circuito circular. Consta, porém, como opcional altamente recomendado pelos organizadores e pelos cicloturistas que já passaram por lá.

A Cachoeira do Zinco tem uma queda de 76 metros e é muito procurada para a prática de rappel, mas que atualmente só é permitido com o acompanhamento de um empresa especializada da região. O Egon contou que o pessoal chegava muito despreparado, com equipamentos pouco confiáveis. Nunca houve nada, mas o lugar é propriedade particular e ele poderia ser responsabilizado caso, um dia, acontecesse algum acidente. Banhos também não são permitidos; só o acesso ao mirante.

Em outros tempos, todos tinham liberdade para entrar e aproveitar as águas frescas. O Egon e a Margarete nem cobram a entrada. Infelizmente, não há novidade no que vou dizer, mas o Egon tinha que descer fazendo rapel para recolher o lixo deixado: sacolas plásticas, saquinhos de batata frita, latas de cerveja, garrafas de refrigerante, fraldas descartáveis sujas de cocô, e por aí vai… As pessoas não respeitaram o lugar e perderam a possibilidade de usufruir dele. Já vimos esse filme…

Enfim, seguimos para sede da fazenda, a pousada. Fomos recebidos pelo Egon. Ele e o Rui pareceram-me grandes amigos. Logo a Margarete veio nos cumprimentar e dar-nos as boas vindas! O Rui estava chocado com a quantidade de bagagem e insistiu que eu deixasse ele levar a maior parte para Rodeio. A gente seguiria para lá no dia seguinte. Concordei, claro! Logo a Margarete nos trouxe sanduíches e limonada, depois cuca. E o Rui foi embora levando a maior parte da nossa excessiva bagagem.

Quando o Eduardo chegou, a Margarete preparou-nos uma bela pizza! Ele elogiou a pizza e ela respondeu: “O melhor tempero para qualquer comida é a fome… Se eu te desse Havaianas empanadas você ia devorar e achar uma delícia!” Pura verdade! De qualquer forma, a pizza nos pareceu fantástica!

Conversamos um longo tempo com Egon e Margarete. Nem vimos o tempo passar. Rimos muito e quase choramos, pois falamos de alegrias e tristezas. Um papo ótimo! Foi como chegar em casa de amigos e gastar tempo colocando o assunto em dia.

Os dois são membros da Associação que mantém o Circuito de Cicloturismo e nos contaram das mazelas e das compensações que têm passado no propósito de manter o circuito vivo. Foi aí que entendemos a razão de muitas pessoas no caminho não saberem do que estávamos falando.

Descansamos um pouco na cama muito fofa da nossa suíte. O Eduardo estava acabado! Mesmo sem bagagem, ele contou que as subidas foram terríveis!

A última, para o Zinco, certamente foi a pior de todas! Disse que ficava imaginando se eu e a bagagem estivéssemos com ele… Sozinho ele gastou 3 horas para vencer os 42 Km daquele dia. Mas, espere aí… 42 Km? Não seriam 32 Km???

Disse bem: “seriam”, se ele não tivesse errado o caminho. Mesmo com o tracklog e de olho no GPS, justamente no fim de uma subida havia uma entrada à direita que ele não viu e, como logo em seguida começava uma descida, ele tratou de relaxar e ‘sentar a botina’. Resultado: só deu fé de que havia errado o caminho quando chegou a uma pequena localidade que ele tinha certeza não fazer parte do roteiro. Foi pedir informações e descobriu que teria que voltar 5 Km pra pegar o caminho certo de novo. “Tudo de bom”, não é mesmo?! Adivinhem só se ele tivesse errado esse caminho me levando junto…

2013-04-01_Elevação_Dia_4

Jantamos na companhia dos nossos novos amigos. Comida caseira e ao mesmo tempo glamourosa, preparada pela Margarete que tem sangue alemão, como o Egon.

Comemos além da conta, tomamos um ótimo vinho da San Michele, degustamos sorvete com calda de jabuticaba e fomos dormir embalados pelo som da chuva.

Os céus proclamam a glória de Deus,
e o firmamento anuncia as obras das suas mãos.

Um dia discursa a outro dia, e uma noite revela conhecimento a outra noite.
Não há linguagem, nem há palavras, e deles não se ouve nenhum som; no entanto, por toda a terra se faz ouvir a sua voz,
e as suas palavras, até aos confins do mundo.

Salmo 19:1-4

Veja mais fotos desse dia:

  • Cachoeira do Zinco Cachoeira do Zinco
  • Bella Pousada Bella Pousada
  • Bella Pousada Bella Pousada
  • Belos arrozais Belos arrozais
  • Prefeitura de Doutor Pedrinho Prefeitura de Doutor Pedrinho
  • Rui chegando à Bella Pousada para me resgatar Rui chegando à Bella Pousada para me resgatar
  • Igreja em Enxaimel Igreja em Enxaimel
  • Campo do Zinco Campo do Zinco
  • O caminho O caminho
  • Igreja em Enxaimel Igreja em Enxaimel
  • Campo do Zinco Campo do Zinco
  • Placa dando a direção do opcional Campo do Zinco Placa dando a direção do opcional Campo do Zinco
  • Entrada da Fazenda Campo do Zinco Entrada da Fazenda Campo do Zinco
  • Cachoeira do Zinco Cachoeira do Zinco
  • Cachoeira do Zinco Cachoeira do Zinco
  • Cachoeira do Zinco Cachoeira do Zinco
  • Eduardo e Egon do Campo do Zinco Eduardo e Egon do Campo do Zinco
  • Caminho do mirante Caminho do mirante
  • Vista do vale Vista do vale
  • Marjorie no caminho Marjorie no caminho
  • Pousada Campo do Zinco Pousada Campo do Zinco
  • Entrada para a sede da fazenda Campo do Zinco Entrada para a sede da fazenda Campo do Zinco
  • Cachoeira do Zinco Cachoeira do Zinco
  • Campo do Zinco Campo do Zinco
  • Aconchegos da pousada Campo do Zinco Aconchegos da pousada Campo do Zinco
  • Campo do Zinco Campo do Zinco
  • Campo do Zinco - Sede Campo do Zinco - Sede
  • Campo do Zinco Campo do Zinco
  • Campo do Zinco Campo do Zinco
  • Jantar no Campo do Zinco Jantar no Campo do Zinco
  • Um rio no caminho Um rio no caminho
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