10 de maio de 2012

Castração

Por Erika Horst

Matéria publicada, em 22/04/2012,  no Correio Braziliense.

 

Rápido e indolor Embora menos conhecido, o método químico para a castração de animais é muito eficiente e causa menos efeitos colaterais

 

Corrigindo o texto da foto, a Luna foi castrada aos 6 meses, antes do seu primeiro cio.

Técnicas para evitar a reprodução de cães e gatos não são novidade. A mais comum é a castração cirúrgica, na qual são retirados os órgãos reprodutores do pet. A cirúrgica é feita com anestesia geral e o tempo de recuperação é de, em média, uma semana. Uma opção menos invasiva é a castração química, proporcionada por medicamentos como o Infertile, criado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Quando aplicada no testículo do animal, a substância à base de zinco diminui o número de células que produzem os espermatozoides, levando o bicho à esterelidade.

A aplicação é realizada em menos de três minutos, apenas em machos, e não requer anestesia, apenas analgésicos para bloquear a dor. “O composto possibilita a troca de uma cirurgia e suas eventuais complicações por um procedimento ambulatorial”, destaca o veterinário Ricardo Lucas, diretor técnico da empresa responsável pelo Infertile. Cerca 20% dos cães que recebem o Infertile se tornam apenas inférteis, mas continuam produzindo espermatozoides. Nesses casos, uma segunda dose é aconselhada para reduzir a libido e eliminar, definitivamente, as chances de procriação.

No momento da aplicação, o composto provoca uma espécie de fibrose indolor. “É um processo natural causado pela perda de tecido. Trata-se de uma cicatriz e não de uma necrose”, detalha Lucas. De acordo com a empresa fabricante, desde a realização dos primeiros testes até 2009, quando o produto foi lançado para distribuição, mais de mil cães foram esterelizados. O método, que também pode ser usado em gatos, tem algumas vantagens em relação à castração convencional. A médica veterinária Maria Cristina Amarante, da ONG Parque Francisco de Assis, administra o produto há um ano e atesta: “Os animais ficam mais tranquilos, sem brigas por disputa pelas fêmeas. E não foi observado aumento de peso entre eles”.

Na castração cirúrgica, o aumento de peso é o efeito colateral mais comum por causa da diminuição da atividade hormonal nos animais. Os quilinhos a mais, foram percebidos pela funcionária pública Erika Horst, após castrar três, das quatro cadelas que cria. As lhasa apsos Bia, 6 anos, e Bianca, 4, foram castradas após a primeira cria. “A Bia engordou muito. Mas a alimentação farta que recebia não ajudava. Depois, entrou numa rígida dieta e numa rotina de exercícios. Conseguimos que perdesse 2kg”, conta. “Já Bianca tinha acabado de ter sete filhotes. Não podíamos regrar a comida. Engordou um pouco, mas logo que desmamou, entrou de dieta e perdeu peso”, recorda a dona. A cadela Luna, 11 meses, também da raça lhasa apso, foi a única que não engordou com a castração. A diferença é que ela teve uma dieta mais restrita e foi castrada antes do primeiro cio, o que reduz a incidência de várias doenças, entre elas, o cancêr de mama.

Nos casos de obesidade canina, Rosângela Ribeiro, gerente da ONG Sociedade Mundial de Proteção Animal (WSPA, em inglês), recomenda que, além de alimentação balanceada, o melhor é manter o pet ativo. “Cabe ao dono do animal estimulá-lo por meio de atividades, brincadeiras e passeios”, afirma. Rosângela destaca, ainda, que fatores genéticos estão relacionados ao aumento de peso do animal.

Mudanças no comportamento do animal também podem surgir após a castração, mas para a surpresa de Erika foi a golden retriever Flora, que mudou, embora não tenha sido castrada. “Ela era dócil e se mantinha submissa à Bia e à Bianca. A Bia, mesmo castrada, era a líder da matilha. Este ano, a Flora completou 3 anos e descobriu que podia disputar a liderança. Afinal, ela é a única com hormônios por aqui”, conclui Erika. Ela pretende castrar o animal em breve, para que não transmita a displasia coxo-femoral (má-formação da parte traseira da coxa), que é uma doença hereditária.

A castração cirúrgica custa, em média, R$ 800. Pode ser realizada a partir dos quatro meses de idade ou antes do primeiro cio, no caso de fêmeas. Há situações de castração precoce, a partir de 12 semanas de vida, que têm o intuito de evitar o desenvolvimento de doenças hereditárias. Existe, ainda, a castração gratuita, que pode ser feita no Controle de Zoonozes local. Além do órgão oficial, organizações não governamentais realizam a castração sem custo adicional. Comparado à cirurgia, o Infertile é bem mais barato, segundo Ricardo Lucas. “Com o mesmo número de profissionais necessários para um mutirão de castração cirúrgica é possível fazer o triplo de esterilizações químicas”, estima.