14 de janeiro de 2013

Estrada Real – São Gonçalo do Rio das Pedras, Milho Verde, Serro e Conceição do Mato Dentro

Por Erika Horst

25/09/2009

São Gonçalo do Rio das Pedras-MG

Às 13h saímos de Diamantina em direção a São Gonçalo do Rio das Pedras, pelo Caminho dos Diamantes, que liga Diamantina a Ouro Preto.

 

 

Paisagem linda! Estrada péssima… Muito cascalho solto, subidas e descidas muito íngremes!  Para trafegar por ali de carro, prefira um 4×4. E de moto?? Um perigo para motociclistas em qualquer moto, mas com uma trail dá pra rodar. O Eduardo não podia tirar o olho da estrada e aproveitar a paisagem… tadinho! Mas para mim, garupa, foi maravilhoso e emocionante! Nem ameacei dormir durante o trajeto. Mas não podíamos parar para fotografar o caos, pois corríamos o risco de, perdendo o embalo, não poder continuar. Insisti em fotografar, mas as imagens ficaram tão tremidas quanto a estrada. Não vale a pena compartilhar.

Entre Diamantina e São Gonçalo do Rio das Pedras há um povoado chamado Vau. Começou a se desenvolver no século XVIII, com a atividade do garimpo de ouro e diamante à beira da Estrada Real, por onde as riquezas de Minas eram levadas até Paraty. Por ali, passava o ponto mais raso (o vau) do Rio Jequitinhonha, que servia de travessia para viajantes e tropeiros. Daí surgiu o seu nome. Passamos rapidamente por lá e logo depois, chegamos a São Gonçalo, há 34 km de Diamantina.

 

 

São Gonçalo do Rio das Pedras é uma pequena vila. Sua arquitetura é colonial e rural. Tem casas muito simples, mas muito graciosas e bem conservadas. A Igreja Matriz de São Gonçalo, construída em 1787, é de madeira e barro e foi tombada pelo patrimônio histórico.

Paramos numa mercearia onde conversamos muito com o proprietário, um senhor muito simpático. Ele foi motorista de ônibus até sofrer um grave acidente que o deixou paraplégico. Por essa razão, abriu a mercearia. Ele nos contou várias coisinhas a respeito da vila.

Disse que, além do artesanato em tapeçaria e capim dourado, os travesseiros usados pela população são feitos da paina de uma paineira gigante que fica na praça. Ali é o ponto de encontro do povo que se assenta à sombra da paineira pra papear. Também falou das várias cachoeiras incríveis na região. A de que ele mais gosta é a Cachoeira do Comércio.

Tomamos água, comemos uns biscoitos demos uma volta por lá e continuamos a viagem. Arrependemo-nos de ter passado por ali tão rápido, pois embora pequena, a vila era muito interessante e tinha muitas coisas pra nos mostrar. Será que um dia a gente volta?

Milho Verde-MG

 

Saímos de São Gonçalo do Rio das Pedras e rodamos 3,7 km até o distrito de Milho Verde, que fica perto da nascente do Rio Jequitinhonha, à beira da Serra do Espinhaço. A estrada é a rua principal. Há outra rua e acabou. Ainda assim, é um lugar que atrai turistas por causa da paisagem, das cachoeiras, do ar puro das montanhas e, obviamente, pela comida mineira feita no fogão à lenha. É o que dizem os guias. Naquele dia não encontramos outros turistas além de nós. Passamos por umas três pessoas da cidade. Parecia uma cidade fantasma. Hora da “siesta”?

   

Chegamos por volta das 15h20 e procuramos o “Armazém”, um bar local. O caderninho da Lu recomendava um papo com o Paulo, proprietário. Mas quem nos atendeu foi a Rita, a ex-esposa. Ela nos disse:

1º) O Paulo foi dormir.

2º) Nós nos separamos e ele abriu outro bar.

Bem, a Rita era a nova proprietária. Uma figura incrível! Ela que abriu o “Armazém” para nós e nos serviu uma cerveja GELADA!!

Fazia um calor! Veio em ótima hora! Com ela uma batata frita que chegou pedindo socorro!!! Afogada no óleo. A Rita se desculpou, pois não estava habituada à cozinha. Mas a batata estava excelente, por incrível que pareça!

Armazém em Milho Verde-MG

Rita, a nova proprietária do Armazém

O bar era muito louco! Totalmente kitsch e isso inclui a Rita. Resguardadas as devidas proporções, é claro, tive a impressão de que a Mara Alcamim andou por ali antes de decorar o Universal Diner, em Brasília. E quem mandou eu pensar nisso bem ali? Deu uma vontade de comer o “Steak Universal”! Ui! Ficamos com a batata afogada, enfim, nosso almoço. Graças a Deus por ele! Estávamos famintos.  Além disso, foi uma honra pra nós aquela receptividade. Obrigada, Rita!

Levantamos “acampamento” com destino a Serro

 

 

Passamos por várias fazendas, paisagens estonteantes e aqueles aromas… Humm! Pena que o Eduardo não aproveitou tanto quanto eu. Afinal, a estrada continuava tão ruim! Ele tinha que ficar atento ao caminho. Às vezes, parávamos pra esticar as pernas e tirar umas fotos. Em uma dessas, o terreno estava tão fofo que a moto escorregou e caiu. Caímos. Nada de mais. Marcamos o território e continuamos.

 

 

Olha que esse trecho foi longo! 22km no asfalto é logo ali. Naquela estrada e de moto, caramba! E pelo caminho não tinha mais nada além de fazendas, fazendas, fazendas. Se quiséssemos parar teríamos que pedir abrigo ou dormir ao relento, pois não levávamos barraca.

Chegamos a Serro às 17h. Serro foi a primeira cidade de verdade que encontramos depois de Diamantina. As demais eram pequenos lugarejos, vilas.

 

 

 

Pensamos em dormir ali. Mas o dia ainda estava bem claro. Era umas 17h. Seriam mais 46 km “no asfalto” até Conceição do Mato Dentro, pois alguém informou que era “só um tiquinho de estrada de chão” e que ela estava “boa mesmo”! Ponderamos que era um caminho curto e que estava cedo para parar… seguimos.

 

 

 

Conceição do Mato Dentro é logo ali!

Decisão errada! Era “só um tiquinho” de asfalto que acabou logo adiante e a estrada de terra estava em péssimas condições. Não quero passar pela estrada “ruim mesmo” no conceito daquele informante… Logo escureceu e vivemos os piores momentos dessa viagem. Minha coluna estava acabada com tanto solavanco. Para aliviar eu comecei a sustentar meu peso nos joelhos. Logo eles estavam doendo. O Eduardo nem tinha opção. Estava muito cansado, também com dores na coluna e nos joelhos e eu não podia ajudar, porque a Varadero é muito alta para mim.

Tiquinho de estrada boa mesmo!

Quando vimos uma placa dizendo que faltavam 7 km, não acreditamos! Ainda falta tudo isso!!! E não chegava nunca!!! Depois desse trecho, os joelhos do Eduardo não deram mais trégua até voltarmos para Brasília. Além disso, percebemos que era um trecho bonito para ser apreciado durante o dia, com calma e que Serro é uma bela cidade que deveria ter sido explorada, afinal. Que arrependimento!

 

 

Chegamos a Conceição do Mato Dentro às 18h. Foram 60 minutos eternos… Procuramos uma pousada e nos informaram que havia a do Garoto. Foi até rápido! Ufa! Tomamos um merecido banho e saímos loucos para comer alguma coisa.

Mas o que é isso? Chega de pressa, gente! Antes de ganhar a rua, na recepção, encontramos o Garoto. Ele começou a contar histórias e soubemos que ele era músico, tocava sax e cavaco e que era vocalista da banda que criou chamada Top Swing. Lógico que ele tinha o DVD da banda! Assistimos tudinho e estranhamos… O que uma banda de forró nordestino fazia no interior de Minas Gerais??? É que o Garoto (Otávio Lacerda) tem origem nordestina. Pelo que percebemos, a Top Swing faz muito sucesso por lá.

Chegamos a um restaurante esganados de fome! O cansaço era tamanho que nem me lembro o nome do lugar e não tenho vaga lembrança do que comemos… Só me lembro de que mal conseguíamos andar ao voltarmos para a pousada. Que dia! Gastamos 5 horas para percorrer 134 km! Joelhos estourados, coluna queimando, o punho do Eduardo latejando de dor… Além disso, lindas imagens e inesquecíveis momentos vividos  na memória, o que é mais importante e vai ficar para a posteridade, porque a dor e o cansaço já passaram e as dificuldades que enfrentamos viraram motivo de piada!

 

 

Dormimos muito bem!